8 de setembro de 2013 | Autor: antonini
O burocrata acorda e abre a boca,
segundo ordena a RIPD – Regras Imediatas Para o Despertar. Confere
os botões do pijama, vê que está faltando um, anota a quantia deles
numa folha ao lado, data, assina e carimba.
Tranca-se no banheiro, até que lá fora se forma uma fila imensa
(mulher, empregada e cinco filhos) que começa a agitar. O burocrata
dá um sorriso (ele só consegue sorrir diante de filas
insatisfeitas). A mulher grita: “escova os dentes”. E ele escova.
“Toma banho”. E ele toma. O burocrata adora cumprir ordens. Confere
o número de furos do chuveiro, anota, data, assina e carimba.
Senta-se à mesa da copa, também chamada de RDPD – Repartição
Doméstica do Pão Diário, lê seu jornal favorito – o Diário Oficial
da União. Encaminha um ofício à empregada solicitando um pedaço de
pão com manteiga. A manteiga vem estragada e imediatamente é
instaurado um inquérito administrativo. Em seguida ele palita os
dentes e com o palito confere o número de molares, pré-molares e
caninos. Anota, data, assina e carimba.
Deixa com a esposa o dinheiro, também chamado de previsão
orçamentária – do dia: um real. O burocrata é notoriamente um
pão-duro.
A mulher quer beijá-lo, mas ele olha o relógio – oito horas – sente
muito, o expediente está encerrado, agora só amanhã, pois agora tem
que ir para a repartição e aguentar aquela monotonia o dia inteiro.