Ubuntu: a porta de entrada para o software livre
29 de outubro de 2008 | Autor: antonini
Então, se optássemos estrategicamente por concentrar os esforços de
disseminação do Software Livre através da adoção de uma distribuição (e
conseqüentemente, seu ambiente gráfico padrão), não em detrimento das
demais, mas como uma espécie de “porta-de-entrada” o Software Livre,
quais seriam as vantagens?”
Por Ednei Pacheco
Menos de 5% de usuários desktops, esta é a cota aproximada, alcançada
pelas distribuições GNU/Linux. Uma marca até certo ponto insignificante,
se considerarmos o público-alvo em que os esforços para a sua
disseminação é direcionado. No entanto, isto não quer dizer que tais
esforços não existem; mas, podemos tranqüilamente considerar que são mal
empregados…
Diferente do Windows, temos um universo interessante de distribuições e
ambientes gráficos. Ubuntu/Kubuntu/Xubuntu, SuSE/OpenSuSE, Mandriva,
Fedora, Debian, Slackware, Kurumin, Arch Linux, PCLinuxOS e Gentoo,
entre outras, estão entre as distribuições mais populares. Em menor
grau, temos os ambientes gráficos GNOME e KDE, que são os mais poderosos
da atualidade, embora o simples Xfce também tenha conquistado seu
espaço. Enfim, com a existência de uma gama opções diversificadas, entre
outras particularidades, não é difícil compreender o porque dos linuxers
apreciarem de tal maneira a sua distribuição e ambiente gráfico
preferido, “defendendo-a” (de quê?) com unhas e dentes, tal como o faz
com o time de futebol do coração.
Uma série de fatores impedem a disseminação do Tux, embora possamos
contabilizar com os dedos da mão, os principais: a cultura do Windows, o
suporte ao hardware, a resistência à mudanças do usuário leigo, a
existência de uma infinidade de distribuições e, por fim, a fragmentação
das comunidades. Poderíamos eliminar todos estes empecilhos? Não; mas,
se montarmos uma estratégia para eliminar apenas um destes, não só
reduziríamos a sua influência, como também abriremos caminho para
enfrentar os demais empecilhos com maior força.
Estou falando mais especificamente da fragmentação das comunidades.
Embora todas tenham em comum o desejo de disseminar a essência
ideológica do Software Livre, constantemente vemos agitadas discussões
sobre os aspectos relacionados a melhor distribuição e ambiente gráfico.
Tal hábito, embora esclareça muitas particularidades relacionadas aos
sistemas, mostram também aspectos bastante negativos: em destaque, os
esforços para a disseminação fragmentados e a má reputação da comunidade
como um todo.
A distribuição “X” tem ferramentas de detecção mais eficiente, enquanto
a distribuição “Y” possui um gerenciador de pacotes mais robusto; o
ambiente gráfico “A” é mais leve e fácil de usar, enquanto o ambiente
gráfico “B” é mais estável e rico em aplicativos; assim começam os
debates! A seguir, estas qualidades passam a ser comparadas, e no final,
acabam se tornando discussões agressivas, onde as distribuições e
ambientes gráficos que, antes eram elogiados por determinados indivíduos
e/ou grupos, acabam sendo denegridas com aspectos negativos que, por
serem exaltadas de tal maneira, acabam ganhando dimensões muito maiores
do que são de fato. Não raro, elas nem sequer possuem tais “defeitos”,
quando mal passam de uma particularidade…
O final disso tudo é previsível: cada indivíduo e/ou grupo tenta,
isoladamente, propagar suas escolhas preferidas como a ideal para as
necessidades dos novos usuários, sem sequer avaliar as suas necessidades
e particularidades. Muitas das vezes, baseiam-se nos aspectos críticos
das demais opções para eleger a sua escolha! Embora outros
disseminadores, mais conscientes e moderados, adotem discursos mais
abertos, acabam pecando na falta de vibração e entusiasmo, tornando-se
menos convincentes, já que no fundo, acreditam que a sua opção preferida
é a ideal (e não raro, acabam incentivando o seu uso no finalzinho do
discurso).
E, se todos os esforços fossem concentrados em uma única distribuição?
Sim, sei perfeitamente que esta não é a primeira vez que esta hipótese é
cogitada. Mais ainda, estou consciente de que tal proposta não só vai
alimentar uma discussão longa e infindável, como também será rechaçada
por muitos usuários das demais distribuições. Porém, alguns aspectos
deverão ser levados em conta para a formulação desta “nova” proposta…
Desde 1999, venho acompanhando a evolução do Tux como sistema
operacional para desktops. Por volta de 2002, a grande evolução dos
ambientes gráficos KDE e GNOME, bem como as melhorias relacionadas ao
suporte a hardware e a existência de uma série de novas aplicações – em
destaque, o Firefox e o OpenOffice.org -, impulsionaram os esforços para
a sua adoção em desktops, firmando-se como opção viável à partir de
2004, com a existência do fenômeno Ubuntu. Mas ainda assim, mesmo com os
incentivos do Governo Federal, a proliferação dos netbooks e o fiasco do
Windows Vista, me parece que não houve muitos avanços…
Então, se optássemos estrategicamente por concentrar os esforços de
disseminação do Software Livre através da adoção de uma distribuição (e
conseqüentemente, seu ambiente gráfico padrão), não em detrimento das
demais, mas como uma espécie de “porta-de-entrada” o Software Livre,
quais seriam as vantagens?
De imediato, os esforços concentrados na propagação da distribuição
escolhida traria um maior impulso na disseminação do Software Livre;
conseqüentemente, reduziríamos as infrutíferas discussões sobre qual é a
melhor distribuição que reinam nos já fragmentados fóruns de discussão,
facilitando a vida dos novos usuários em obter informações mais
preponderantes. Por fim, seria “convencionado” uma espécie de
“distribuição-padrão”, eliminando de vez as dificuldades causadas pelas
diferentes implementações existentes.
À curto prazo, a concentração dos novos usuários em uma única
distribuição e a definição de uma metodologia (artigos, tutoriais e
dicas) para a sua manutenção, tornaria mais viável a realização de novos
empreendimentos: em destaque, o suporte técnico ao cliente seria
aperfeiçoado, visto que a oferta de novos equipamentos compatíveis e
serviços relacionados poderiam se concentrar em apenas um sistema,
estendendo-a para as demais assim que lhes for conveniente. Por exemplo,
algumas empresas de telecomunicação poderiam perfeitamente criar
aplicações especiais para facilitar o processo de ajuste e configuração
do acesso à banda-larga para os seus novos clientes…
À médio prazo, com o crescimento e a popularidade desta distribuição, a
atenção dos fabricantes de hardwares se voltariam para o suporte e a
homologação de sua linha de produtos. Não raro, a colaboração no
desenvolvimento de drivers livres e aplicações relacionadas também
seriam mais intensificadas, o que não só ampliará o suporte ao hardware,
como também tais melhorias poderiam perfeitamente se estender para as
demais distribuições.
À longo prazo, a resistência dos novos usuários aos poucos se quebraria,
colaborando ainda mais com a disseminação do Tux e claro, uma gradual
redução da tão difamada cultura Windows, o qual a conhecemos. E todo
este processo geraria um ciclo interminável de aperfeiçoamento, suporte,
disseminação e aceitação, tendo os seus resultados perfeitamente
previsíveis.
Por fim, com uma forte base instalada, eis o grande final: as demais
distribuições teriam um ambiente mais propício para se disseminarem, já
que a quebra de hábitos e paradigmas, além da natural curiosidade e a
busca por novidades, impulsionariam boa parte destes novos usuários –
que não serão poucos – a conhecerem as demais opções. A migração de um
sistema GNU/Linux para outro sistema GNU/Linux seria muito menos
turbulenta e mais agradável, se comparado ao processo migratório de
sistemas com altos contrastes, como do Windows para o GNU/Linux.
Distribuições comerciais consagradas, bem como os demais ambientes
gráficos, seriam bastante beneficiados de forma indireta.
Então, qual seria a distribuição ideal para este propósito? Bem,
partindo do princípio de que não existe a distribuição ideal (conceito
que pode variar de indivíduo para indivíduo), teríamos que basear nossas
escolhas em outros fatores. De todos fatores possíveis, o mais tangível
está na boa aceitação desta opção: e no estágio atual, não há
distribuição mais bem aceita que o Ubuntu…
Além da sua grande aceitação, o Ubuntu provê também outras vantagens
interessantes: o excelente marketing, a simplicidade de instalação, o
alto nível de acabamento e, principalmente, a sua adoção por fabricantes
consagrados, como a Dell. Outro fator que colabora bastante com a esta
empreitada está na distribuição gratuita de mídias de instalação, que
por sua vez poderá ser utilizado intensamente como ferramenta de
disseminação.
Então, como poderíamos direcionar estes esforços em prol do Ubuntu?
Através de campanhas e conscientização dos demais linuxers quanto às
vantagens de se unificar os esforços para a disseminação do Software
livre como um todo, concentrando-os exclusivamente para a categoria de
usuários leigos e iniciantes. E uma vez bem disseminado, estes mesmos
linuxers poderão encontrar um ambiente mais propícios para a
disseminação de seus projetos favoritos, em um futuro não muito
distante. No final, toda a comunidade ganha!
Aos usuários das demais distribuições e ambientes gráficos, em especial
aqueles que certamente irão se opor a esta proposta, sejam inteligentes:
deixem suas emoções e preferências de lado! Portanto, não encarem o
Ubuntu como um adversário ou concorrente, e sim, como um grande parceiro
e aliado na disseminação do Software Livre.
É deixar de ganhar agora, para faturar depois… &;-D
Por Ednei Pacheco <ednei.pacheco@gmail.com>
http://by-darkstar.blogspot.com/