Cientistas contestam estudo sobre bactéria composta por arsênio
8 de dezembro de 2010 | Autor:
antonini
Há mais de meio século se pesquisa a
composição e o funcionamento do material genético e durante todo
esse tempo, como ninguém tinha encontrado, ainda, um organismo com
composição diferente? Todo e qualquer experimento científico sério é
feito usando-se métodos e equipamentos que fornecem resultados
numéricos, em forma de gráficos, em traços de espectros, borrões ou
manchas em determinadas posições de uma placa e etc, e as conclusões
são formuladas a partir da interpretação desses achados e, por isso,
é altamente provável que uma contaminação no meio de cultura tenha
levado os investigadores a encontrar o arsênico no meio dos
resultados emitidos pelos equipamentos utilizados. Leiam na matéria
abaixo, transcrito do Globo.com a contestação de diversos
especialistas na área que atestam a contaminação da amostra pelo
arsênico.
Reportagem do site Slate consultou especialistas que
reprovaram estudo. Material avaliado poderia ter adquirido o
elemento químico por acidente.
Uma reportagem publicada nesta
terça-feira (7) no site Slate traz críticas de cientistas ao
estudo divulgado pela Nasa na última quinta-feira sobre uma
bactéria que consegue viver com o elemento químico arsênio em seu
DNA. O anúncio repercutiu na imprensa mundial pelo fato de todas
as formas de vida até então conhecidas serem baseadas
principalmente na combinação de apenas seis átomos básicos:
carbono (C), hidrogênio (H), nitrogênio (N), oxigênio (O), fósforo
(P) e enxofre (S).
Para a professora de microbiologia Rosie Redfield, da Universidade
da Columbia Britânica, no Canadá, o trabalho denominado “Uma
bactéria que consegue crescer usando arsênio em vez de fósforo” é
“sem sentido”. “Fiquei impressionada com o nível ruim de ciência
do artigo”, disse ao site. Ela pretende escrever uma carta à
revista “Science”, que publicou o estudo, formalizando suas
queixas.
Para o microbiologista Forest Rohwer, da Universidade Estadual de
San Diego (EUA), especialista em novas espécies de bactérias e
vírus em recifes de corais, a descoberta seria interessante, se
fosse confiável. “Nenhum dos argumentos foi muito convincente”,
disse o cientista. Já Shelley Copley, da Universidade de Colorado,
vai mais longe. “O artigo não deveria ter sido publicado.”
Apesar das censuras, nenhum dos pesquisadores consultados pelo
site negou a possibilidade de a estranha bactéria ser possível.
Roger Summons, professor do Instituto Tecnológico de
Massachussetts (MIT, na sigla em inglês) e um dos entrevistados,
foi coautor de um estudo da Academia Americana de Ciências sobre
vida extraterrestre que defendia a pesquisa em biologia com base
em arsênio, publicado na “Science” em 2007.
Uma das críticas citadas refere-se ao método de retirada do DNA do
micro-organismo utilizado pelos cientistas da Nasa, que deveria
ter contado com precauções a mais para “limpar” o material de
outras moléculas. Sem essas medidas, o arsênio pode simplesmente
ter se atrelado ao DNA. “É bem trivial fazer um trabalho melhor
que esse”, disse Rohwer.
Para o microbiologista Alex Bradley, da Universidade Harvard, os
cientistas da Nasa demonstraram, sem querer, falhas na pesquisa.
Ao fazer a imersão do DNA da bactéria GFAJ-1 na água para análise,
os pesquisadores deveriam ter observado uma fragmentação do
material genético, já que compostos com arsênio se desintegram
rapidamente no contato com o líquido.
Bradley defende que o DNA manteve-se unido por causa da presença
de fosfato, mesmo em quantidades reduzidas. O pesquisador lembra
que micro-organismos crescem no Atlântico Norte com níveis de
fosfato 300 vezes menores que os aferidos em culturas de
laboratório.
Como os pesquisadores da Nasa utilizaram sais para alimentar as
bactérias que, segundo eles próprios admitiram, continham pequenas
doses de fosfato, os críticos acreditam que as bactérias usaram
parte dessa provisão escassa do elemento químico para sobreviver.
Norman Pace, também da Universidade de Colorado, pioneiro na
identificação de micro-organismos pela análise de DNA e coautor do
trabalho divulgado há 3 anos, foi outro a não poupar críticas.
“Níveis reduzidos de fosfato, investigadores ingênuos e revisores
ruins fazem a história desse estudo”, disse.
A defesa
“Todo debate proposto deverá passar por uma revisão, da mesma
forma que nosso artigo passou, com todas as discussões podendo ser
moderadas corretamente”, disse Felisa Wolfe-Simon, do instituto de
astrobiologia da Nasa e principal autora do artigo publicado na
semana passada na “Science”.
Já Ronald Oremland, ligado a um órgão de pesquisa geológica
norte-americano, disse que o debate sobre o estudo não pode
descambar para um “fórum midiático”. “Se estamos errados, outros
cientistas deveriam reproduzir nossos achados. Se estivermos
certos, então nossos competidores nos aceitarão e nos ajudarão a
compreender melhor esse fenômeno.”
A negativa de debater em público os resultados contestados não
convenceu Jonathan Eisen, da Universidade da Califórnia em Davis.
“Eles fizeram ciência por meio de notas para a imprensa e órgãos
de mídia”, disse o pesquisador. “É um pouco hipócrita eles
quererem basear sua defesa agora na literatura científica.”
De acordo com o site, a equipe da Nasa ofereceu a cultura de
bactéria GFAJ-1 para testes que decidirão, de uma vez por todas,
se o micro-organismo possui, de fato, um DNA sustentado com base
no arsênio.