Pessoas têm memórias que nunca existiram, diz estudo
15 de novembro de 2008 | Autor: antonini
Um estudo apresentado
nesta quarta-feira no Festival de Ciências da Associação Britânica,
em Liverpool, sugere que as memórias de acontecimentos marcantes nem
sempre estão corretas. O estudo, da Universidade de Portsmouth,
indicou que indivíduos podem ser facilmente convencidos de ter visto
coisas que não aconteceram.
No experimento, 300 pessoas (150 britânicos e 150 suíços) foram
entrevistadas sobre as recordações que guardavam do atentado ao
ônibus em Tavistock Square, em Londres – uma das quatro explosões
que atingiram o sistema de transporte da cidade em 7 de julho de
2005.
Em entrevistas feitas três meses após os ataques, 40% dos
participantes britânicos afirmaram ter visto imagens de um circuito
interno de televisão no momento da explosão do ônibus, enquanto 28%
afirmaram ter assistido a uma reconstrução computadorizada do
evento. No entanto, nenhuma das duas imagens do ataque existe.
O mesmo aconteceu com os participantes suíços, mas em menor escala.
Entre eles, 16% afirmaram ter visto as imagens de CCTV e 6%, da
reconstrução.
Segundo o pesquisador da Universidade de Portsmouth James Ost, que
coordenou o estudo, os resultados indicam que as memórias “não são
perfeitas”. “[As memórias] não são como uma fita de vídeo que você
pode rebobinar e assistir novamente para lembrar com perfeição”,
afirmou.
Fantasia
Para Ost, essa “imprecisão” enfraquece o argumento de que é possível
confiar apenas em relatos em situações jurídicas que envolvem, por
exemplo, testemunhos de vítimas de abuso ou de trauma infantil.
De acordo com ele, desenvolver memórias falsas – lembrar de coisas
que não aconteceram – é igualmente um problema para policiais em
investigações criminais e assistentes sociais que auxiliam famílias
com suspeitas de abuso ou outros casos que dependem do relato de
testemunhas.
“Descobrimos que algumas pessoas são suscetíveis à fantasia, são
propensas a acreditar que testemunharam algo que não poderiam ter
visto. Elas enganaram a si mesmas em acreditar que viram algumas
coisas”, diz o pesquisador.
Segundo ele, alguns dos participantes que relataram os atentados em
Londres realmente “fantasiaram” sobre o que afirmaram ter visto.
Um dos relatos oferece detalhes sobre o momento em que o suposto
homem-bomba entrou no ônibus e os movimentos que teria feito com a
mochila para detonar os explosivos – imagens do ataque que jamais
foram gravadas.
Ost explica que as pessoas que relataram memórias falsas são mais
propensas a fantasiar do que aquelas que não desenvolveram essas
lembranças. Segundo ele, isso pode sugerir que pessoas mais
criativas ou imaginativas seriam mais propensas a criar memórias
falsas.
Imperfeição
Em sua apresentação em Liverpool, o pesquisador afirmou que esses
resultados reforçam estudos anteriores sobre as “falsas memórias”.
Ost e sua equipe já haviam realizado um estudo sobre as recordações
das pessoas acerca do acidente que provocou a morte da princesa
Diana.
Nessa pesquisa, 20 de 45 pessoas entrevistadas – o equivalente a 44%
– afirmaram ter visto imagens de um vídeo que teria registrado o
momento exato do acidente, inclusive a chegada dos paparazzi ao
local. Novamente, essas imagens não existem. De acordo com ele,
essas seriam “mais provas de que nossas memórias não são perfeitas”.