15 de novembro de 2008 | Autor: antonini
Na busca de novas drogas analgésicas, muitos pesquisadores
brasileiros partem da observação do uso tradicional de fitoterápicos
(plantas com efeitos farmacológicos).
Foi assim que a
Croton cajucara – planta amazônica conhecida
como sacaca – despertou o interesse de Frederico Argollo
Vanderlinde, do Laboratório de Farmacologia da Universidade Federal
Rural do Rio de Janeiro. A casca da sacaca é facilmente encontrada
nos mercados de Manaus e Belém. Dois usos chamaram a atenção do
farmacologista: contra processos inflamatórios e, paradoxalmente,
contra úlceras gástricas. Em colaboração com a fitoquímica Maria
Aparecida Maciel, do Departamento de Química da Universidade Federal
do Rio Grande Norte, Vanderlinde identificou compostos terpenóides
no extrato da casca da planta; efeitos antiinflamatório e
antinociceptivo foram confirmados em animais. Contudo, eles só
apareceram em doses muito altas, e a baixa solubilidade desses
compostos exigiu grandes quantidades de solvente, resultando em uma
mistura de elevada toxicidade.
Apesar dos resultados pouco animadores, os pesquisadores testaram
outra fração do extrato das cascas da sacaca. Encontraram nela um
alcalóide – ainda não identificado – que parece pertencer ao grupo
da morfina. Em animais, essa fração apresentou um potente efeito
antinociceptivo, reversível por um antagonista da morfina – logo
esse alcalóide deve atuar no mesmo receptor opióide. No entanto,
ficou provado que essa fração do extrato não exerce efeitos sobre o
SNC, portanto o composto deve agir apenas sobre receptores opióides
presentes nas terminações periféricas dos nociceptores, imaginam os
cientistas, que atualmente trabalham no isolamento desse alcalóide
da sacaca.
Outra planta pesquisada por Vanderinde, em colaboração com Sônia
Soares da Costa, do Núcleo de Pesquisas de Produtos Naturais da
Universidade Federal do Rio de Janeiro, é o Sedum dendroideum, um
arbusto ornamental conhecido como bálsamo, cujo chá das folhas é
usado contra dores e inflamações. Esses efeitos foram confirmados em
testes com animais usando doses baixas do extrato aquoso.
Experimentos recentes sugerem que o efeito antiinflamatório pode ser
mediado por mecanismos semelhantes aos dos antiinflamatórios
esteroidais – os corticoesteróides (drogas potentes, mas que causam
muitos efeitos adversos). Quatro flavonóides já foram identificados
nesse extrato do bálsamo. Se eles serão mais ou menos vantajosos que
os atuais corticoesteróides, é o que os pesquisadores pretendem
responder futuramente.
Por: Luciana Christante