24 de novembro de 2008 | Autor: antonini
Estudo da USP mostra que depressão
pós-parto atinge até 35% das mães.
Um outro lado da maternidade, distante do mundo cor-de-rosa dos filmes,
dos sonhos adolescentes e dos comerciais de televisão, tem aparecido com
maior freqüência na vida de mães e bebês paulistanos, segundo pesquisa
do Instituto de Psicologia da Universidade de São Paulo (USP). Ao
acompanhar as consultas de pré-natal, o parto e os retornos de mulheres
atendidas em hospitais públicos da cidade, aplicando um questionário
padrão e uma avaliação, o trabalho encontrou uma incidência de depressão
pós-parto em 32% a 35% delas – um número três vezes mais alto do que o
identificado na literatura médica, que varia de 10% a 15%.
São mulheres que, em vez dos sorrisos constantes pela felicidade de ter
um bebê em casa, como elas e as famílias provavelmente esperavam, se
deparam com crises de choro, irritação permanente, dificuldades para
dormir e comer, sensação de desamparo e tristeza e falta de apetite
sexual – nos casos mais graves, podem ocorrer tentativas de suicídio e
atos de violência contra a criança. Além disso, sentem raiva do bebê, o
culpam por sua situação e, muitas vezes, acabam sendo negligentes em
relação aos cuidados de que a criança necessita, tratando-a como um
fardo. Esse conjunto de sintomas pode aparecer nos primeiros dias após o
parto e, se não for cuidado, persistir por até um ano.
E não são só as mulheres que sofrem com essa situação. Uma série de
pesquisas indica que essa falta de contato com a mãe nas primeiras
semanas traz conseqüências para o desenvolvimento físico e neuromotor da
criança, persistindo nos anos seguintes: interagem menos com adultos,
estabelecem menos relações afetivas e têm níveis mais altos de hormônios
relacionados ao stress no organismo. Fazer um mapeamento detalhado
desses efeitos e o que eles acarretam na relação entre mãe e filho é um
dos objetivos da pesquisa da USP, financiada pela Fapesp e pelo CNPq. O
trabalho começou no ano passado e deve se estender pelos próximos dois
anos.
Simone Iwasso