Vírus que não se integram ao genoma
podem viabilizar tratamentos com células-tronco induzidas
Cientistas americanos conseguiram gerar células-tronco pluripotentes
induzidas (na imagem) usando adenovírus, que não se integram ao
genoma celular e não provocam tumores nos hospedeiros (foto: Mathias
Stadtfeld e Konrad Hochedlinger).
Mais um
obstáculo à produção de células-tronco pluripotentes induzidas
parece ter sido superado. Por sua semelhança com as células-tronco
embrionárias, elas poderiam ser usadas no futuro em terapias
celulares contra diversas doenças. Cientistas norte-americanos
desenvolveram um método capaz de gerar as células induzidas usando
vírus que não provocam danos genéticos permanentes nem tumores no
hospedeiro, um problema apresentado em estudos anteriores.
O método para obter essas células-tronco consiste em inserir quatro
novos genes em células adultas – usando vírus como vetores – para
induzir sua regressão para o estado de células-tronco embrionárias.
Com esses genes, as células são reprogramadas de forma a se
comportar como se fossem pluripotentes, ou seja, capazes de se
diferenciar em diversos tipos celulares especializados.
Dois estudos publicados em 2007 haviam conseguido gerar
células-tronco pluripotentes induzidas a partir de células adultas
da pele humana. Em 2006, o método havia sido demonstrado com sucesso
em camundongos. Mas os retrovírus usados como vetores nesses estudos
podem prejudicar o organismo em que essas células reprogramadas são
inseridas, pois freqüentemente alteram seu genoma e estão associados
ao risco de formação de tumores.
Agora uma outra equipe, liderada por Matthias Stadtfeld, do Centro
de Câncer do Hospital Geral de Massachussetts e do Centro para
Medicina Regenerativa (Estados Unidos), produziu células-tronco
pluripotentes induzidas de células do fígado e fibroblastos de
camundongos pelo uso de adenovírus. Os novos vetores permitiram um
alto nível de expressão dos genes introduzidos e não se integraram
ao genoma das células.
Células reprogramadas e pluripotentes
Os pesquisadores afirmam que as células-tronco geradas com esse novo
método têm características de células reprogramadas e expressam
genes de pluripotência. Para verificar seu potencial de
diversificação, as células foram injetadas nos flancos de
camundongos. Testes histológicos mostraram diferenciação em três
tipos celulares: de músculos, de cartilagens e epiteliais.
O emprego das células-tronco pluripotentes induzidas adenovirais em
camundongos não gerou efeitos colaterais indesejados. A análise de
animais com 4 a 13 semanas de vida, que receberam as células em um
estágio inicial do desenvolvimento embrionário (fase de
blastocisto), não mostrou formação de tumor. Apesar dos avanços do
novo método, ainda será preciso driblar alguns obstáculos, como sua
eficiência extremamente baixa para gerar as células-tronco.
O estudo, publicado na Science desta semana, permitirá verificar se
as células-tronco pluripotentes induzidas e as células-tronco
embrionárias são equivalentes em níveis moleculares e funcionais.
Antes essa comparação não era possível, porque os genes virais eram
expressos em baixos níveis nas células e nas linhagens descendentes,
o que pode afetar seu comportamento e potencial de diferenciação.
Além disso, caso os resultados do estudo consigam ser reproduzidos
em células humanas, a reprogramação por adenovírus pode resultar em
um método aperfeiçoado para gerar e estudar células-tronco
específicas de alguns pacientes e, no futuro, ser usada para tratar
doenças degenerativas. “Mas será importante estimar se
células-tronco pluripotentes induzidas humanas geradas sem
integração viral são de fato tão potentes quanto células-tronco
embrionárias humanas”, advertem os pesquisadores.
Thaís Fernandes
Ciência Hoje On-line
25/09/2008