Mau Humor
21 de maio de 2009 | Autor: antonini
Muito boa!
por Lula Vieira (publicitário)
Não me lembro direito, mas li numa revista, um artigo levantando a
hipótese de que todo o cara que tem mania de fazer aspas com os
dedinhos quando faz uma ironia, é um chato.
Num outro artigo alguém escreveu que achava que jamais tinha
conhecido um restaurante de boa comida com garçons vestidos de
coletinho vermelho.
Joaquim Ferreira dos Santos, em ‘O Globo’ de domingo, fala do
seu profundo preconceito com quem usa a expressão ‘agregar
valor’.
Eu posso jurar que toda mulher que anda permanentemente com
uma garrafinha de água e fica mamando de segundo em segundo é
uma chata. São preconceitos, eu sei. Mas cada vez mais a vida
está confirmando estas conclusões.
Um outro amigo meu jura que um dos maiores indícios de babaquice é
usar o paletó nos ombros, sem os braços nas mangas. Por incrível que
pareça, não consegui desmentir. Pode ser coincidência, mas até agora
todo cara que eu me lembro de ter visto usando o paletó colocado
sobre os ombros é muito babaca.
Já que estamos nessa onda, me responda uma coisa: você conhece algum
natureba radical que tenha conversa agradável?
O sujeito ou sujeita que adora uma granola, só come coisas
orgânicas, faz cara de nojo à simples menção da palavra ‘carne’,
fica falando o tempo todo em vida saudável é seu ideal como
companhia numa madrugada? Sei lá, não sei. Não consigo me lembrar de
ninguém assim que tenha me despertado muita paixão.
Eu ando detestando certos vícios de linguagem, do tipo ‘chegar
junto’, ‘superar limites’, essas bobagens que lembram papo de
concorrente a big brother.
Mais uma vez, repito: acho puro preconceito, idiossincrasia, mas
essa rotulagem imediata é uma mania que a gente vai adquirindo pela
vida e que pode explicar algumas antipatias gratuitas. Tem gente que
a gente não gosta logo de saída, sem saber direito por quê. Vai ver
que transmite algum sintoma de chatice.
Tom de voz de operador de telemarketing lendo o script na tela do
computador e repetindo a cada cinco palavras a expressão
‘senhooorr’, me irrita profundamente.
Se algum dia eu matar alguém, existe imensa possibilidade de ser um
flanelinha. Não posso ver um deles que o sangue sobe à cabeça. Deus
que me perdoe, me livre e me guarde, mas tenho raiva menor do
assaltante do que do cara que fica na frente do meu carro, fazendo
gestos desesperados tentando me ajudar em alguma manobra, como se
tivesse comprado a rua e tivesse todo o direito de me cobrar pela
vaga. Sei que estou ficando velho e ranzinza, mas o que se há de
fazer?
Não suporto especialista em motivação de pessoal que obrigue as
pessoas a pagarem o mico de ficar segurando na mão do vizinho, com
os olhos fechados e tentando receber ‘energia positiva’.
Aliás, tenho convicção de que empresa que paga bons salários e tem
uma boa e honesta política de pessoal não precisa contratar
palestras de motivação para seus empregados. Eles se motivam com a
grana no fim do mês e com a satisfação de trabalhar numa boa
empresa. Que me perdoem todos os palestrantes que estão ficando
ricos percorrendo o país, mas eu acho que esse negócio de trocar
fluidos me lembra putaria.
E, para terminar: existe qualquer esperança de encontrar vida
inteligente numa criatura que se despede mandando ‘um beijo no
coração’? (perdoe-me a franqueza se você é uma delas).