A câmera


10 de junho de 2009 | Autor: antonini   

Casamos novos. Ela com 19 e eu com 20 anos de idade. Lua-de-mel, viagem, mobília na casa alugada, prestações da casa própria e o primeiro bebê.

Anos 80 e a moda era aquela filmadora do Paraguai. Sempre tinha um vizinho ou um amigo contrabandista disposto a trazer aquela uma muambazinha por um preço módico.

Ela tinha vergonha, mas eu desejava eternizar aquele momento. Invadi a sala de parto com a câmera no ombro e chorei enquanto filmava o parto no meu primeiro filho. Todo mundo que chegava lá em casa era obrigado a assistir ao filme.

Perdi a conta das cópias que fiz do parto e distribui entre amigos, parentes e parentes dos amigos. Meu filho e minha esposa eram meus orgulhos.

Três anos depois, novo parto, nova filmagem, nova crise de choro.

Como ela categoricamente disse que não queria que eu firmasse, invadi a sala de parto mais uma vez com a câmera ao ombro.

As pessoas que me conhecem sabem que havia apenas amor de pai e marido naquele ato. O fato de fazer diversas cópias da fita era apenas uma demonstração do meu orgulho.

Nada que se comparasse ao fato de ela, essa semana, invadir a sala do urologista, câmera ao ombro, filmando meu exame de próstata.

Eu lá, com as pernas naquelas malditas perneiras, o cara com dedo (ele jura que era só um!) quase na minha garganta e minha mulher gritando:

– Ah! Doutor! Que maravilha! Vou fazer 2000 cópias dessa fita! Semana que vem envio uma para o senhor!

Meus olhos saindo da órbita a fuzilaram, mas a dor era tanta que não conseguia falar. O miserável do médico girou o dedo eu vi o teto a dois centímetros do meu nariz. A mulher continuou a gritar, como diretor de cinema:

– isso, doutor! Agora gira novo, mais devagar. Vou dar um close agora…

Alcancei um sapato no chão e joguei na f*d*p*.!

Agora, estou escrevendo este e-mail, pedindo aos amigos que receberam uma cópia do filme, que a enviem de volta para mim sem assisti-lo. Eu pago o reembolso. E depois, a cerveja.

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