Um perfil antropológico dos principais grupos humanos que procuram hospitais



11 de junho de 2009 | Autor: antonini

O PIMBA (Pobre/Imundo/Mulambento/Bêbado/Atropelado):
Grupo formado por adultos jovens que chegam à emergência em estado lastimável, com um cheiro insuportável, enchendo o saco do médico assistente, arrancando todas as punções venosas, isso quando não estão cheio de escoriações e cortes que obrigam o plantonista a gastar horas com suturas chatas. Normalmente chegam em horários inconvenientes, como troca de plantão, no meio da madrugada, hora do almoço e na hora do seu horário noturno.  Possuem em comum uma citoquina, a mulambi na, que os protege das mais temíveis feridas. Normalmente quando tomam banho ou ficam sóbrios a mulambina fica indetectável e o paciente evolui para coma e choque. Em PIMBA foi detectado uma citoquina variante, a banditina, muito mais potente, que o fazem sobreviver a, por exem plo, 14 tiros de AR-15 na barriga.

A CRACA = Pior pesadelo dos médicos plantonistas.
Grupo formado por idosos, principalmente mulheres, sempre com mais de 70 anos. Chegam sempre faltando 20 minutos para a hora da troca de plantão ou quando vc está ocupado com vários casos.
Trazidas p elos familiares em cadeira de rodas, todos com cara de muito assustados. Não conseguem andar, falar, colaborar, ver, ouvir ou sentir. Em muitos casos são pessoas que já passaram do quarto AVC e possuem, além de DM e HAS, várias doenças por sistema/aparelho.     O médico é obrigado a medir pressão e fazer exame físico nas posições mais variadas e inusitadas, ao mesmo tempo que tem que ficar escutando os familiares, loucos para se livrarem do abacaxi, dizendo que ela “não pode ter alta” e “precisa ficar internada”. Após gastar várias horas ouvindo queixas dos familiares e gemidos, descobre-se que era apenas uma desidratação.
Quando o médico tem azar, descobre que foi broncoaspiração e precisa intubar uma velhinha não colaborativa com uma cifose tão intensa que se ficar em decúbito dorsal, ela tomba para o lado, e o pior, o pe scoço é curto e torto obrigando a você enfiar o laringo enviesado. O problema é que sempre quando vc acaba de intubar, a velhinha pára e morre. A merda é  explicar aos familiares…

O GRIPADO = Grupo mais numeroso das emergências:
São pessoas que não toleram uma leve tosse, faringite ou cefaléia, acham que 37 graus é febre mortal e vão te aporrinhar, sempre chegando em grupos de 4 ou 5 de uma vez só.. O principal horário de chegada é quando a sua refeição chega e nos 30 minutos antes do fim do plantão diurno. Todos tem plano de saúde e “já que tem plano, tem mais é que gastar”.             Quando dá-se o diagnóstico, eles normalmente falam que “já sabiam” e “não precisa prescrever porque eu tenho o remédio em casa”. Uma parcela  “que está no médico” e começa a fazer um histórico de queixas e sintomas que tiveram ao longo de suas infelizes vidas e querem que o médico (“aquele fdp que não trabalha”) resolva tudo naquele momento.

O PITI = Figura histórica das emergências.
A definição envolve toda a sorte de mulheres que chegam à emergência dando ataques histéricos e/ou alegando sintomas incompatíveis com a clínica e exame normal. Por trás, sempre uma história de brigas com namorados, maridos, filhos, etc.
No PITI CLÁSSICO, a pessoa chega com contratura de todos os membros, boca e olhos, parece estar possuída Possui o sinal do elástico (Quando o médico estica o braço, a paciente puxa de volta) e o patognomônico sinal do flutter ocular (Ao pousar os dedos sobre as pálpebras forçadamente fechadas, o médico sente no dedo uma nítida fibrilação, resultante do esforço gerado pela contratura).
Ao contrário da pessoa desmaiada, ao tentar-se abrir as pálpebras, a paciente as fecha de volta (sinal do pseudo-rebote palpebral). O PITI CLÁSSICO é tratado com uma breve psicoterapia. Basta prometer, em alto som, um tratamento que seja humilhante e muito doloroso e que não se importa com isso porque a paciente está mesmo desmaiada e “não irá sentir”. Em poucos segundos a pessoa volta ao normal e deseja ir embora. Existe as variantes PITI F LÁCIDA, quando a paciente chega “desfalecida”, carregada no colo pelo companheiro, e esta sempre tem uns quilinhos a mais (gorda feia).
A variante PITIZINHA é nada menos a filha da PITIZEIRA que ao chegar na emergência e ver a mãe no leito dá também um ataque histérico. Apesar da vontade de bater na cara da mulher, o médico é obrigado a ocupar mais um leito e fazer a “psicoterapia”.
Apesar de não ser comum, o PITI masculino, quando ocorre, costuma ser mais grave e indica investigação de etiologia própria, como história familiar (criado pela avó), exame físico com pesquisa de prega furicular, sinal do pseudo-flapping, pseudo-anquilose cervical, lordose acentuada, sinal da maçã e teste de HIV.

O ESPERTALHÃO:
Normalmente homens, adultos jovens que chegam sempre em horários que não os do almoço, café da manhã ou noite. Começam com uma história comprida, com vários sinais e sintomas incompatíveis, associações entre exposição e sintomas exdrúxulos, clínica incompatível. Até que, quando você está para pedir uma Kaiser, eles revelam a que vieram: “me dá o dia doutor”, pois não podem ou não foram trabalhar hoje. Existe a variante CARA DE PAU, que pede atestados para o resto da semana e só aparece nas quartas ou quintas e a variante CRETINO, que pede atestados para dias anteriores já devidamente enforcados.

O DOUTOR:
Normalmente pessoas de meia idade. Já chegam dizendo a doença que têm, o remédio que devem tomar e os exames que devem ser solicitados.
Ao chamar esse paciente de “colega” e perguntar “aonde o sr./sra. se formou” eles reagem espantados, sem graça e dizem que não são médicos mas que “mais de uma dezena de médicos já falaram o que ele tem” e que “somente o que foi pedido faz efeito nele”. Existe a variante “CHECK-UP”, pessoas que procuram emergências para fazer “check-up” e/ou solicitar exames por conta própria.
Em comum são o total desconhecimento do que estão fazendo e a solicitação de exames que não terão NENHUM prognóstico em sua expectativa de vida.

A FILHA DA PUTA:
Grupo feminino heterogêneo que sempre aparece na emergência às 2:00am pelos motivos mais idiotas possíveis como gripe, faringite, dor no dedão e outras emergências urgentíssimas. A frase padrão é “em primeiro lugar bom dia, doutor. Me desculpa por estar aqui a essa hora, mas….”

A MELHOR MÃE DO MUNDO
Variante pediátrica, parece no PSI a partir das 22h da noite. Seu rebento- que está praticamente pendurado no lustre do consultório, está obviamente muito doente, gripado, o nariz escorre e é obvio – ele não come absolutamente NADA. Quando questionada sobre a frequencia com que vai ao consultório do pediatra, a mesma responde que não precisa mais passar de rotina, que o colega pediatra deu “alta”- o que não existe na puericultura até os 12 anos!!! Quando informada do diagnóstico, solta imediatamente a frase- ” Vou chamar meu marido- você pode repeir PRA ELE o que está falando pra mim???!!!!” Como se o diagnóstico mudasse frente a pais trogloditas e mal educados, normalmente ausentes, que resolvem ser machos na frente do pediatra do PS. Existem as variantes- “Vou chamar minha mãe”- no caso, avó do pimpolho ( uma senhora muuuuuuuuuito mais exper iente com uma verruga no nariz e vassoura no corredor)…

PAIN (PAIS INTERNETS)
Estes são ótimos… sabem exatamente tudo que seu newborn baby, de apenas 640gr que nasceu na maca, sem pre natal, por ITU não tratada, que você pediatra infeliz de plantão supõem que a felizarda mamy tenha…apresentam e poderão vir a apresentar., afinal leram TUDO na internet, o que você levou aproximadamente 10 anos para aprender…Perguntam mais de mil vezes para que servem TODAS as luzinhas em volta da “chocadeira” e inclusive dão palpites na conduta médica- tipo-” Ele está com muito remédio na veia, por isso não acorda!! !”  ou ainda fazem comentário de quem realmente entende do assunto e compreendeu toda a situação: ” Mas doutora, quando ele vai poder mamar no peito?” – tipo com 640gr, intubado, com dopa/dobuta e etc… ainda: “Mas tirando tudo isso ele tá bem? Assim… alta mais ou menos pra quando heim???”- Essa é ótima!!!!

POR FIM- TEMOS OS P.A.RE.  ( PAIS ALTAMENTE RELIGIOSOSOU CARINHOSAMENTE CONHECIDOS COMO AMÉM:
Esse grupo de pais, geralmente de prematuros ou bebês graves, são ótimos, não pela fé, é claro, mas pela corelação que eles fazem dos médico s de plantão. Quando informados da situação grave, Jesus – o plantonista da noite sempre vai ajudar, até Deus, o diarista da manhã chegar, é claro….mas quando o bebê evolui mal….” Pai, seu bebê está muito grave… Jesus vai abençoar…. Pai, seu bebê não teve melhora… Deus tá olhando por nós… Pai, seu bebê infelizmente faleceu- Médico filha da puta que não fez nada,eu não estava nem sabendo que meu filho estava tão grave!!! Quero uma cópia do prontuário….!”



TEM QUE TER UMA PACIÊNCIA….

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