Aí você toma um avião e …
16 de junho de 2009 | Autor: antonini
Aí um dia você toma um avião para Paris, a lazer ou a trabalho, em
um vôo da Air France, em que a comida e a bebida têm a obrigação de
oferecer a melhor experiência gastronômica de bordo do mundo, e o
avião mergulha para a morte no meio do Oceano Atlântico. Sem que
você perceba, ou possa fazer qualquer coisa a respeito, sua vida
acabou. Numa bola de fogo ou nos 4 000 metros de água congelante
abaixo de você naquele mar sem fim. Você que tinha acabado de
conseguir dormir na poltrona ou de colocar os fones de ouvido para
assistir ao primeiro filme da noite ou de saborear uma segunda taça
de vinho tinto com o cobertorzinho do avião sobre os joelhos. Talvez
você tenha tido tempo de ter a consciência do fim, de que tudo
terminava ali.Talvez você nem tenha tido a chance de se dar conta
disso. Fim.
Tudo que ia pela sua cabeça desaparece do mundo sem deixar
vestígios. Como se jamais tivesse existido. Seus planos de trocar de
emprego ou de expandir os negócios. Seu amor imenso pelos filhos e
sua tremenda incapacidade de expressar esse amor. Seu medo da
velhice, suas preocupações em relação à aposentadoria. Sua
insegurança em relação ao seu real talento, às chances de
sobrevivência de suas competências nesse mundo que troca de regras a
cada seis meses. Seu receio de que sua mulher, de cuja afeição você
depende mais do que imagina, um dia lhe deixe. Ou pior: que
permaneça com você infeliz, tendo deixado de amá-lo. Seus sonhos de
trocar de casa, sua torcida para que seu time faça uma boa
temporada. Suas noites de insônia, essa sinusite que você está
desenvolvendo, suas saudades do cigarro. Os planos de voltar à
academia, a grande contabilidade (nem sempre com saldo positivo) dos
amores e dos ódios que você angariou e destilou pela vida, as
dezenas de pequenos problemas cotidianos que você tinha anotado na
agenda para resolver assim que tivesse tempo. Bastou um segundo para
que tudo isso fosse desligado. Para que todo esse universo pessoal
que tantas vezes lhe pesou toneladas tenha se apagado. Como uma
lâmpada que termina e não volta a acender mais. Fim.
Então, aproveite bem o seu dia. Extraia dele todos os bons
sentimentos possíveis. Não deixe nada para depois. Diga o que tem
para dizer. Demonstre. Seja você mesmo. Não guarde lixo dentro de
casa. Não cultive amarguras e sofrimentos. Prefira o sorriso. Dê
risada de tudo, de si mesmo. Não adie alegrias nem
contentamentos nem bons sabores. Seja feliz, Hoje. Amanhã é
uma ilusão. Ontem é uma lembrança. No fundo, só o hoje existe.
Autor desconhecido.
Recebido de Luiz Maçaneiro