Cereal para criança tem sódio e açúcar demais, diz pesquisa


1 de dezembro de 2009 | Autor: antonini

Isso já é sabido há muito tempo e comprovado estatísticamente, pois basta ver o número crescente de crianças vítimas de aneurisma e outras doenças vasculares graves que morrem nas UTIs pediátricas dos grandes hospitais do Brasil.

CLÁUDIA COLLUCCI
BRUNA SANIELE
DA REPORTAGEM LOCAL

Pro Teste analisou 18 produtos com maior presença no mercado de alimentos infantis.

Um outro problema apontado é a falta de adequação da tabela nutricional à faixa etária a que o produto se destina.

Teste com 18 cereais matinais de maior presença no mercado de alimentos infantis mostra que a maioria dos produtos contêm açúcar e sódio em excesso e poucas fibras. A avaliação foi feita pela Pro Teste (Associação Brasileira de Defesa do Consumidor).

Uma porção de 30 gramas de sucrilhos de chocolate da Kellogg’s (uma tigelinha), por exemplo, tem 205 mg de sódio.

Uma criança de um a três anos deve consumir, por dia, no máximo 225 mg desse mineral -ou seja, uma única porção equivale a 90% das suas necessidades diárias. Para um adulto, essa quantidade de sódio representa 10% das necessidades.

Na avaliação da Pro Teste, todos os cereais matinais também têm açúcar em excesso -de 5,5 a 13 gramas por porção.

De acordo com a OMS (Organização Mundial da Saúde), o ideal é que uma criança de até três anos consuma, no máximo, 14 gramas por dia de açúcar.

Uma porção do sucrilho sabor banana, por exemplo, tem quase toda a quantidade diária de açúcar recomendada para uma criança nessa faixa etária.

Presente no sal e base para conservantes, o sódio em excesso está ligado à hipertensão arterial e a problemas renais. Já muito açúcar tem relação com obesidade e diabetes tipo 2.

Fibras
Dos cereais analisados, dez marcas apresentaram menos de três gramas de fibras para cada 100 gramas do produto -três gramas é a quantidade mínima para um alimento ser considerado fonte de fibra. Os cereais Corn Flakes (todos os sabores) e Chokos tiveram o pior desempenho no teste: possuem menos de 0,01% de fibra, ou seja, praticamente nada.

Um outro problema apontado pela Pro Teste -que envolve os cereais analisados e a maior parte de alimentos consumidos pelo público infantil- é a falta de adequação da tabela nutricional à faixa etária a que o produto se destina.

A pesquisadora de alimentos da Pro Teste, Fernanda Ribeiro, explica que o percentual diário recomendado de cada nutriente é calculado para uma dieta de 2.000 quilocalorias, que corresponde à necessidade calórica de um adulto, não de uma criança.

A dieta de uma criança de um a três anos, por exemplo, deve ser de 1.050 calorias, segundo a Anvisa (Agência Nacional de Vigilância Sanitária). De quatro a seis anos, esse valor sobe para 1.450 e, de sete a dez anos, para 1.750. “O ideal seria que essas informações fossem apresentadas de acordo com a faixa etária. Seria muito mais útil aos pais”, avalia a pesquisadora.

“Isopor food”
O nutrólogo e cardiologista Daniel Magnoni orienta que as pessoas escolham o cereal matinal pelo menor índice de sódio e açúcar e maior presença de fibras solúveis. “O ideal é misturar com um iogurte light, enriquecido com cálcio, e muita fruta”, diz ele.

Para Magnoni, os pais não devem se impressionar pelas vitaminas e sais minerais contidos no rótulo dos produtos. “Isso a criança consegue por outras fontes. O que não pode é ficar comendo essa quantidade de sódio e açúcar e quase nenhuma fibra. Isso é o que chamamos de “isopor food”, cuja única função é aumentar as taxas de obesidade infantil.”

A nutricionista Madalena Vallinoti afirma que muitas vezes os pais utilizam o cereal como alternativa para que a criança consuma leite. “Os pais devem evitar o consumo exagerado desses cereais, mas também não podem proibi-lo caso a criança goste do produto. Deve haver moderação.”

De acordo com o pediatra e professor da Faculdade de Medicina da USP, Mário Cícero Falcão, o brasileiro consome muito açúcar e os pais educam a criança a gostar do alimento muito doce. “O cereal que a criança mais gosta é aquele com mais açúcar. É a conjunção do paladar brasileiro com a indústria”, afirma Falcão.

Na opinião do pediatra, os brindes distribuídos com os cereais impulsionam o consumo. “Os brindes são uma grande arma antiética. Tem sempre o alimento processado, com valor biológico inferior e pouco nutriente acompanhado do brinde. Por que não vender uma maçã com o personagem da moda?”


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